quarta-feira, 10 de setembro de 2008

O misterio das cabecas de peixe

Como estao todos fartos de saber, a dieta em Luanda, nos primeiros tempos do pos-dipanda, era variada: peixe frito, ou peixe frito...ou ainda peixe frito....e sempre com arroz de tomate! No entanto, dependendo do “poder de troca” (nao do poder de compra pois o dinheiro nao valia grande coisa nessa altura), as vezes conseguia-se outras coisas. Quem trabalhasse na fabrica de cigarros AC, por exemplo, usava os cigarros para trocar por cerveja com alguem que trabalhasse na Cuca, que por sua vez trocava por uma galinha, um peru. A moeda de troca suprema era uma garrafa de whisky....do verdadeiro, nao daquele que todos destilavam nos anexos do quintal! ou que se comprava avulso em garrafas de plastico e do qual se desconhecia completamente a proveniencia ou a composicao! Nao conheco ninguem que depois de beber o tal vendido avulso tenha esticado o pernil, mas conheco muitos que tiveram dor de barriga a serio! Uma garrafa de whisky, geralmente acompanhada de algo mais “trivial” como por ex um saco de acucar ou batata (todo o mundo andava farto de arroz!), dava direito a troca suprema: um porco! Infelizmente havia um senao: os porcos, que tinham exactamente a mesma dieta que nos, tinham um gosto degueulasse a peixe! Era ainda pior do que comer peixe espada todos os dias! Tambem nao durou muito, os poucos porcos que havia, com gosto a peixe ou nao, foram rapidamente devorados e tornaram-se raca extinta! Comecou entao a ver-se o espirito combativo e lutador do angolano e comecaram a criar-se galinhas.....em apartamentos! Se pensam que a historia do porco em apartamento e invencao, enganam-se!
Quando eu comecei a trabalhar na Schlum, eu ia sempre almocar a casa ou entao ia para a praia a hora do almoco. Os estrangeiros que la trabalhavam nao tinham razao nem tempo para ir a casa e almocavam la, iam buscar o terno, que eles chamavam “take-aways” a cantina da Petrangol. O almoco nao variava: cabecas de carapau fritas com arroz de tomate e uma fatia de marmelada para sobremesa. Havia um engenheiro frances, de quem ainda hoje sou muito amiga, que so gostava da marmelada e trocava as cabecas dele pela marmelada dos outros e o almoco dele era sempre um prato cheinho de fatias de marmelada visto que os operadores angolanos nao gostavam e davam-lhe a deles tambem. Entretanto, o misterio das cabecas de peixe fazia uma confusao tal aos engenheiros, que resolveram armar em detectives para descobrir como os tais carapaus so tinham cabeca! Onde estavam os corpos? Foram undercover as cozinhas antes da hora do almoco e descobriram que os cozinheiros comiam-nos antes de servir as cabecas ao resto do pessoal!

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