terça-feira, 5 de agosto de 2014

Bebi da agua do Bengo...

Quando eu voltar,
que se alongue sobre o mar,
o meu canto ao Creador!
Porque me deu, vida e amor,
para voltar...

Voltar...
Ver de novo baloiçar
a fronde magestosa das palmeiras
que as derradeiras horas do dia,
circundam de magia...
Regressar...
Poder de novo respirar,
(oh!...minha terra!...)
aquele odor escaldante
que o humus vivificante
do teu solo encerra!
Embriagar
uma vez mais o olhar,
numa alegria selvagem,
com o tom da tua paisagem,
que o sol,
a dardejar calor,
transforma num inferno de cor...

Não mais o pregão das varinas,
nem o ar monotono, igual,
do casario plano...
Hei-de ver outra vez as casuarinas
a debruar o oceano...
Não mais o agitar fremente
de uma cidade em convulsão...
não mais esta visão,
nem o crepitar mordente
destes ruidos...
os meus sentidos
anseiam pela paz das noites tropicais
em que o ar parece mudo,
e o silêncio envolve tudo
Sede...Tenho sede dos crepusculos africanos,
todos os dias iguais, e sempre belos,
de tons quasi irreais...
Saudade...Tenho saudade
do horizonte sem barreiras...,
das calemas traiçõeiras,
das cheias alucinadas...
Saudade das batucadas
que eu nunca via
mas pressentia
em cada hora,
soando pelos longes, noites fora!...

Sim! Eu hei-de voltar,
tenho de voltar,
não há nada que mo impeça.
Com que prazer
hei-de esquecer
toda esta luta insana...
que em frente está a terra angolana,
a prometer o mundo
a quem regressa...

Ah! quando eu voltar...
Hão-de as acacias rubras,
a sangrar
numa verbena sem fim,
florir só para mim!...
E o sol esplendoroso e quente,
o sol ardente,
há-de gritar na apoteose do poente,
o meu prazer sem lei...
A minha alegria enorme de poder
enfim dizer:
Voltei!

Alda Lara

Trinta anos depois voltei a terra que me viu nascer. Alguns de voces saberao exactamente o turbilhao de emocoes que senti, outros serao incapazes de perceber porque senti necessidade de voltar. Como ouvi algures, "cada um e como cada qual". Deixei Luanda em 1984, por vontade propria, embora problemas pessoais relacionados com a saude do meu filho tivessem apressado a minha partida. Em 84 era impossivel sair da capital por motivos de seguranca e por isso parti com a ideia de voltar quando pudesse de novo visitar os lugares que me encantaram quando, como crianca e mais tarde adolescente, visitei com os meus pais. Estava consciente que iria encontrar um pais muito diferente daquele que deixei em 84, pois felizmente Angola nao estagnou nos ultimos 30 anos! Ha muitas mudancas, de algumas gosto, doutras nem tanto, mas como nao estou pronta para ficar e dar o meu contributo para que as mudancas sejam ao meu gosto, aceito-as em vez de criticar e apontar o dedo.
As recordacoes vieram como ondas, umas doces, preguicosas e meigas, outras bravas como calemas. Umas felizes que me aqueceram, outras tristes como amanheceres no cacimbo. A todas recebi de coracao aberto - fazem parte da minha vida e tiveram um papel preponderante em tornar-me na mulher que hoje sou.
Vou tentar transcrever aqui, o melhor que puder, a minha viagem por terras Angolanas.
Deixei, ha 30 anos, um pais em guerra. Encontrei agora um pais com cicatrizes profundas e muito visiveis que vao custar a curar, mas deparei tambem com um povo decidido a fazer o seu pais renascer das cinzas, um povo com uma vontade de reconstruir e renovar inegualaveis. E penso/espero que este pais tenha um futuro brilhante, digno do seu povo.

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