quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Rumo ao Kwanza Sul

Deixámos o Lobito sem precalços, o que foi estranho, pois nessa manhã entramos numa rua de sentido único em contramão - mas pelo menos não o fizemos na Restinga como a Sacha e o Marc! Fomos mais discretos e por isso escapamos sem ser vistos pela polícia.
Rumamos ao Sumbe, passando pelo desfiladeiro do rio Cubal, que continua impressionante. Tenho fotos tiradas lá há uns 40 anos - o desfiladeiro não envelheceu, não se nota a passagem do tempo, mas infelizmente o mesmo não se pode dizer em relação a mim!
Almoçamos no Sumbe, na marginal, mas como queríamos ir dormir à Gabela, não perdemos tempo. Tínhamos deixado o restaurante quando notamos que éramos seguidos por uma moto e o passageiro fazia sinal para pararmos. "A pasta! A pasta!" Qual pasta? - perguntei. O Mike, recordando a experiência de Cuba, não queria parar, mas lá o convenci a voltar para trás e descobrimos, no restaurante, que ele tinha deixado ficar a mochila com os dólares todos lá dentro! Ninguém tinha tocado em nada, e lá recuperamos a mochila intacta.
A caminho da Gabela paramos nas cachoeiras do Binga. Pensei que estariam sem água, mas tal não foi o caso - estavam cheias e belas! Tiramos fotos do miradouro e descemos à praia. Depois fomos à ponte nova e à antiga também. Só nessa noite, ao lermos o nosso guia, descobrimos a seguinte passagem: "Não ir ao miradouro depois da ponte, pois ainda está minado!" Pessoalmente, acho que desde que o livro foi escrito, muitos progressos têem sido feitos na desminagem (aqui o Mike contesta que é em grande parte graças à contribuição dele), já que nós fomos e ainda aqui estamos para contar a história!
A região da Gabela é muito bonita, a vegetação é abundante, tipo floresta de altitude, ou como os Peruanos chamam, "floresta das nuvens", e o verde contrasta de forma impressionante com o vermelho da terra. Infelizmente as ruas da Gabela estão a ser modernizadas e a poeira resultante também é impressionante, mas claro que isto é um aborrecimento de curta duração - quando as obras estiverem prontas, tudo será muito melhor! Na Gabela ficamos na única pensão e comemos no único restaurante.
No dia seguinte partimos em direcção à Conda. Pensei que desta vez é que ia perder o companheiro de viagem - pedregulhos enormes apareciam por todo o lado, todos possíveis de escalar. Paramos na pousada do Engelo e o Mike queria ficar por lá uns 2 dias - tive de explicar que se ficasse, ficava sózinho! Eu não faço escalada e sem internet o lugar não tinha atracção nenhuma!
Paramos na fazenda Rio Uiri, onde fomos muito bem recebidos e onde nos ofereceram um delicioso café e através deles o Mike descobriu que um dos pedregulhos já tinha sido escalado por um francês (imediatamente pediu nome e contacto).
Paramos em Vila Nova de Seles uns minutos e depois seguimos rumo ao Sumbe. Só que...na fazenda tinham-nos falado dos hipopótamos do Ebo! Fomos a ruminar até ao Sumbe, procuramos hotel e durante o jantar decidimos que no dia seguinte íamos de novo rumo à Gabela e além, procurar os tais hipos.
O Ebo fica entre a Gabela, a Quibala e o Wako Kungo. Passamos a Gabela e metemos por uma picada por 25km. O problema foi que, chegados ao Ebo, ninguém sabia onde estavam os hipopótamos!! Mas como? Afinal de contas, os bichinhos não passam despercebidos, nem se podem esconder atrás de alguma moita! Disseram para perguntar na Administração. Mas havia reunião de gente importante nesse dia e ninguém queria perder tempo connosco ou com os hipos. Depois de muitas turras contra muitas paredes desistimos e metemo-nos na picada, para mais 25km. A meio do caminho deparamos com uma senhora que, com o bebé às costas, ia a caminho da estrada principal, para apanhar o candongueiro para a Gabela. Demos boleia e contou-nos que está a educar 7 filhos sózinha (o pai deles anda entretido com outras mulheres) e que o mais velho quer estudar arqueologia no estrangeiro (ela não faz ideia com que dinheiro). Por ela descobrimos que bastava ter andado mais meia dúzia de kms e dado uma garrafa de vinho ao soba, para vermos os ditos hipopótamos! Decepção não ilustra nem de longe o que sentimos!
Nessa noite dormimos na Casa Branca em Porto Amboim.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Benguela e Lobito

Tínhamos pensado pernoitar no Lubango de novo, mas afinal chegamos tão cedo que decidimos continuar até Benguela.
Para mim, Benguela foi a cidade mais bonita da viagem. Nao falo de arredores, pois aí teria de ser o Lubango ou Namibe, mas cidade mesmo, encantou-me! Talvez porque me fez lembrar Luanda nos tempos da pós-dipanda, em que nem tudo era fácil, mas também não havia demasiado stress.
Adorei verificar que o mercado ainda lá está e os edifícios art deco também. As praias continuam lindas.
Encontramos a melhor pastelaria fora de Luanda e ficamos num hotal recentemente construído muito confortável, com internet e a um preço razoável, que desconfio é determinado pelo facto de se situar ao lado de uma igreja que insiste em ensaiar os hinos até atingir a perfeição - o que pelos vistos, garanto que demora bastante!
Depois de uma noite em Benguela mudamo-nos para o Lobito - juro que não foi por causa dos hinos!A saída de Benguela foi interessante, todo o mundo ia, não sei aonde, armado de cadeiras plásticas! Comício? Igreja? Não faço ideia, mas era engraçado ver os que iam de boleia nas motas, com os braços metidos nos braços das cadeiras (cadeiras às costas, tipo mochila).
Adorei a Restinga, onde fomos jantar, ainda cheia de edifícios antigos, todos restaurados e pintados. Ficamos alojados no Chik Chik 2, o irmão pobre do outro, mais barato (quinto andar sem elevador) mas com net. Ao contrário do irmão rico não tinha SPA nem ginásio, mas para quê? Depois de subir 5 andares a pé, o ginásio é totalmente supérfluo!

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Pela Leba até ao Namibe

Depois de uma noite mal dormida pelo motivo abaixo mencionado, pusemo-nos a caminho. Fui praticando a EFT (Emotional Freedom Technique), a terapia que aprendi para me livrar do pavor das estradas de montanha, e dizendo a mim mesma que a estrada era muito boa, uma maravilha da engenharia e que tudo ia correr bem. Pagamos a portagem e começamos a descer. Imediatamente o meu pior pesadelo foi confirmado: acidente na Leba! Não connosco, mas o resultado estava lá, bem visível, para elevar os meus níveis de stress. Havia uma carrinha encarrapitada na barreira metálica de protecção e um camião cisterna virado. Era possível passar, mas a estrada estava alagada de gasóleo. O espaço livre era estreito, entre o camião e o precipício - contive a respiração, encolhi-me o mais possível como se isso tornasse o carro mais estreito, obriguei o Mike a experimentar os travões pelo menos umas 500 vezes, decretei um limite de velocidade de 10km/h e lá fomos descendo a serra, eu sempre com o pé pisando a fundo num travão imaginário! De quando em vez, camiões atrelados enormes ultrapassavam-nos a velocidades loucas, não abrandando nem sequer nas curvas. Várias vezes tive vontade de me apear e descer o resto a pé, mas contive-me por saber que mesmo a pé o pânico não me abandonaria - e duraria muito mais tempo!
Quando chegamos lá abaixo o alívio foi tão grande, que o meu corpo ficou todo molinho que nem caramelo derretido!
Aos poucos a paisagem foi mudando, as árvores rareando, os arbustos transformando-se em plantas rasteiras que por sua vez desapareceram para dar lugar ao deserto e finalmente entramos na cidade do Namibe. A dar-nos as boas-vindas, o poster do Kostadin.
O Namibe mostra muito poucas cicatrizes da guerra, em vez disso tem sinais de nada ter sido feito durante muitos anos. No entanto, gostei muito do facto de nada ter sido destruído e muitos edifícios estarem a ser restaurados. Há exemplos lindos de arte deco recentemente reparados e pintados.
Ficamos alojados no Hotel Moçamedes que infelizmente não tinha wi-fi, mas resolvemos o problema postando-nos no exterior do Chik Chik e "partilhando" a internet deles. Jantamos na marginal, onde tivemos a oportunidade de ver um lindo por do sol.
No dia seguinte fomos à procura do oasis do Arco - digo à procura pois no deserto é difícil seguir estradas não asfaltadas, tudo parece igual! Felizmente não nos perdemos. A lagoa está seca há 2 anos, segundo a senhora que nos serviu de guia, mas o lugar é muito bonito. Deixamos livros e lápis de cor, gasosas e caramelos para os garotos e voltamos à estrada principal rumo a Tombua, vila dedicada à pesca e conserva de peixe, que eu não conhecia. Voltamos ao Namibe, onde fui deixar 3 flores a uma amiga muito querida, que nos deixou mas não será esquecida.
No dia seguinte fomos passear até à praia Amélia e depois metemo-nos a caminho de Benguela. Pelo menos desta vez não houve precalços na Leba e como era a subir, o stress foi muito menor.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Rumo ao Lubango

Terça feira saímos do Huambo rumo à Caala. Fomos visitar a Sra do Monte que foi restaurada e de onde se tem uma vista bonita sobre a cidade. Passamos pela Ganda (onde deixamos numa escola primária, os livros para pintar e lápis de cor que levara comigo), pelo Cubal e finalmente desembocamos na estrada que liga Benguela ao Lubango.Viramos para Sul, em direcção a Quilengues e à tarde chegamos ao nosso destino. Ficamos no Kimbo do Soba, apesar dos conselhos do Luís para irmos para o hotel ao lado. Segundo ele, o Kimbo só tem cubatas e caem-nos bichos em cima enquanto dormimos. Não liguei, porque me lembrei que ele também tentou, há muitos anos, convencer-me a levar lençóis de cama (king size) para a praia, "para não me sujar com areia"! Além disso, o hotel ao lado era caríssimo e o Jotta já me tinha avisado que não tinha gostado.
Como ainda era cedo, subimos até ao Cristo rei, onde esperamos pelo por do sol. Lindo!
Jantamos no restaurante que fica dentro do recinto do Kimbo e dormimos bem - se me caíram bichos em cima não dei conta!
No dia seguinte mudamos as imbambas para o aldeamento turístico da TAAG (ao contrário do Kimbo tinha wi-fi) e fomos visitar a Tundavala. O Mike já tinha visto fotos, mas a verdade é que as fotos não dão uma ideia real da escala e são incapazes de retratar a verdadeira grandeza do local. Sentimo-nos como se fossemos autênticas formigas. O Mike deve ter engolido muita mosca, pois desde que lá chegou até partir andou com o queixo caído!
No caminho de volta paramos num bar, onde bebemos uma Ngola (a foto já andou na minha página!) por 1$.
À tarde fomos passear à cascata da Huíla mas tinha muito pouca água - afinal de contas sempre estamos no cacimbo!
Nessa noite não dormi muito bem, não com medo dos bichos mas graças ao stress causado pela aproximação da serra da Leba!

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Do Wako Kungo ao Huambo

Ao chegar ao Wako fomos imediatamente ver a casa do primo Quim, como tínhamos prometido. A quinta onde se situa a casa é grande e a localização, na base de uma rocha enorme, é perfeita! Um lugar lindo!
O Quim tinha reservado hotel para nós, mas quando lá chegamos pensamos em fugir - hotel spa, 5 *, com um preço a condizer. Contudo, ficamos agradávelmente surpresos, não era tão caro como parecia, provávelmente porque o Wako não é própriamente um destino turístico. Era extremamente confortável, melhor ainda tinha wi-fi, excelentes caipirinhas e o restaurante foi um dos melhores que encontramos na viagem. O único problema foi que só serviam buffet, e o Mike, que estava doente, pagou 40$ por um prato de caldo verde. Culpa dele, quem mandou ficar doente? Para compensar, eu comi provávelmente os meus 40$, e 60% dos dele em sobremesas!
No dia seguinte, fomos visitar a Lupupa lodge, muito bonita mas ainda nao inaugurada. O Mike mal viu a rocha ao lado já não queria partir. Tirou fotos de todos os ângulos para futuras férias totalmente dedicadas ao alpinismo.
O plano era ir ao Huambo e daí ao Lubango. Contudo, não sabíamos nada sobre as estradas. Decidi ligar ao Luís pois não havia ninguém que soubesse melhor que ele, que vive no Lubango mas trabalha no Huambo. Aconselhou-nos a não ir pela Caconda, a estrada tem crateras e corríamos o risco de perder o carro dentro de uma delas, que fossemos por Quilengues. Olhamos para o mapa e a única maneira de chegar a Quilengues era tomar a estrada do Alto Hama para o Lobito e depois descer pela estrada que liga Benguela ao Lubango. Decidimos por isso, não ir ao Huambo, para não termos de voltar atrás.
Na região do Alto Hama vimos o morro do Lubiri e o Moco e mais uma vez pensei que teria de deixar o Mike por ali e apanhá-lo no regresso. Nessa altura o Luís ligou e descobrimos que afinal a estrada a que ele se referia era uma feita recentemente, que liga a Caála ao Cubal e termina ao SE de Benguela, apanhando a tal estrada para o Lubango por Quilengues. Sempre teríamos de ir ao Huambo afinal, tanto mais que o Luís estava a caminho do Huambo e queria ver-nos.
O Huambo está ainda cheio e cicatrizes da guerra, mas o espírito de reconstrução é muito forte e já se notam as melhoras. Achamos o Huambo muito caro, foi um dos hotéis mais básicos e mais caros da viagem. Já o jantar com o Luís, que quase não aconteceu por causa de um problema que ele teve, foi excelente, num restaurantezinho Português, onde ele é cliente assíduo.
Saímos da cidade no dia seguinte de manhã, com uma grade de Cuca preta oferecida pelo Luís - director comercial a fazer golpe publicitário...lol! 

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Pungo Andongo

Domingo de manhã deixamos Kalandula com destino a Pungo Andongo. A estrada não está bem sinalizada, mas seria impossível enganarmo-nos no caminho. Já de longe se avistam, imponentes e majestosas, as pedras negras no horizonte. Entramos no parque e imediatamente apareceu um guia. Subimos por uns caminhos íngremes e uns degraus de pedra até ao topo de uma das pedras maiores para apreciar o panorama -pedras de todos os tamanhos e formas até onde a vista alcança. A luz natural não era muito favorável à fotografia, mas na minha opinião o cacimbo só contribuía para dar um toque de mistério ao local. Quando descemos fomos ver a marca do pé da Rainha Ginga. Há quem não consiga ver, mas geralmente são pessoas sem imaginação.
Tomamos a estrada, que nos últimos kms virou picada, rumo ao Alto Dondo, daí descemos à Quibala, onde não paramos, e ao por do sol chegamos ao Wako Kungo.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Rumo a Kalandula

Sábado, 18 de Julho fomos buscar o carro alugado e tomamos a estrada de Catete em direcção a Kalandula.  As quedas, a cair com uma força tremenda, levantando nuvens de vapor rendilhado e pintando arco-iris suspensos na água tinham-me fascinado quando lá fui, em criança, com os meus pais. Voltei em 1983 e estava ansiosa por ver se ainda tinham para mim a mesma magia.
A viagem teve 2 precalços, que não vale a pena mencionar, e ao princípio da tarde chegamos a Kalandula.
Se um dia lá voltar, vou logo que acabe o verão, depois das chuvas o volume de água será muito maior e tentarei evitar ir ao fim de semana. Havia uma quantidade de gente a fazer picnics, ao som de música em decibeis que devem seguramente ser proibidos (pois, estou a ficar kota mesmo!).
Um garoto veio imediatamente oferecer os seus serviços como guia e embora não precisassemos, aceitamos.
Sim, o caudal não estava tão forte como das outras vezes, mas Kalandula é um lugar muito especial. Adorei caminhar sobre as pedras mas não me atrevi a chegar muito perto do precipício - a terapia diminuiu o meu pânico das alturas, mas definitivamente ainda não acabou com ele.
Nessa noite dormimos em Kalandula, no hotel Yolaka, que não recomendo a ninguém. Os quartos, a 110$, são contentores ou pré-fabricados, mas com o ar condicionado ainda se aguentam, mas a comida...foi a pior refeição de toda a viagem e pagamos 37$ cada um pelo privilégio de não conseguir jantar.

Luanda

Os primeiros 5 dias foram passados em Luanda.
Começamos por fazer passeios a pé com o Mário. O primeiro do Kinaxixe à Mutamba, até ao Polo Norte, Correios e Marginal. Voltando para trás passamos pelo Banco Nacional, Palácio de Ferro, Palácio de D. Joaquina, regresso ao Kinaxixe.
No segundo fomos em direcção ao Eixo Viário, passamos as barrocas, Miramar, entramos no cinema e descobrimos que a sala de projecção, congelada no tempo, ainda tinha as máquinas todas. Voltamos para o Kinaxixe pelo Bairro do Cruzeiro.
Sózinhos fomos a pé do Kinaxixe ao Baleizão, subimos à fortaleza, descemos até à Ilha e fizemos a marginal até ao Porto. Num passeio diferente fomos até à Vila Alice. Subimos os Combatentes, passamos pelo Liceu feminino, Escola Industrial, cinema Atlântico e chegamos até ao Largo do Bocage, onde viveu a minha avó e onde cresci.
Graças ao Marc, que nos emprestou o carro e motorista, fomos a Talatona e ao fundo da Ilha. Tentamos visitar o Palácio de Ferro mas descobrimos que é preciso pedir autorização por escrito e que não é permitido tirar fotos nem da rua - o que não quer dizer que ninguém tire, pois descobrimos também um empresário com iniciativa, que se posiciona ao pé do antigo Colégio das madres e que por uns míseros 200Kz mostra o melhor local para se tirar uma foto ao dito edifício!
Andei de candongueiro (100Kz) e de taxi não-oficial - particulares que por 100Kz dão boleia para locais fixos. Igualzinho aos colectivos do Perú!


terça-feira, 5 de agosto de 2014

Bebi da agua do Bengo...

Quando eu voltar,
que se alongue sobre o mar,
o meu canto ao Creador!
Porque me deu, vida e amor,
para voltar...

Voltar...
Ver de novo baloiçar
a fronde magestosa das palmeiras
que as derradeiras horas do dia,
circundam de magia...
Regressar...
Poder de novo respirar,
(oh!...minha terra!...)
aquele odor escaldante
que o humus vivificante
do teu solo encerra!
Embriagar
uma vez mais o olhar,
numa alegria selvagem,
com o tom da tua paisagem,
que o sol,
a dardejar calor,
transforma num inferno de cor...

Não mais o pregão das varinas,
nem o ar monotono, igual,
do casario plano...
Hei-de ver outra vez as casuarinas
a debruar o oceano...
Não mais o agitar fremente
de uma cidade em convulsão...
não mais esta visão,
nem o crepitar mordente
destes ruidos...
os meus sentidos
anseiam pela paz das noites tropicais
em que o ar parece mudo,
e o silêncio envolve tudo
Sede...Tenho sede dos crepusculos africanos,
todos os dias iguais, e sempre belos,
de tons quasi irreais...
Saudade...Tenho saudade
do horizonte sem barreiras...,
das calemas traiçõeiras,
das cheias alucinadas...
Saudade das batucadas
que eu nunca via
mas pressentia
em cada hora,
soando pelos longes, noites fora!...

Sim! Eu hei-de voltar,
tenho de voltar,
não há nada que mo impeça.
Com que prazer
hei-de esquecer
toda esta luta insana...
que em frente está a terra angolana,
a prometer o mundo
a quem regressa...

Ah! quando eu voltar...
Hão-de as acacias rubras,
a sangrar
numa verbena sem fim,
florir só para mim!...
E o sol esplendoroso e quente,
o sol ardente,
há-de gritar na apoteose do poente,
o meu prazer sem lei...
A minha alegria enorme de poder
enfim dizer:
Voltei!

Alda Lara

Trinta anos depois voltei a terra que me viu nascer. Alguns de voces saberao exactamente o turbilhao de emocoes que senti, outros serao incapazes de perceber porque senti necessidade de voltar. Como ouvi algures, "cada um e como cada qual". Deixei Luanda em 1984, por vontade propria, embora problemas pessoais relacionados com a saude do meu filho tivessem apressado a minha partida. Em 84 era impossivel sair da capital por motivos de seguranca e por isso parti com a ideia de voltar quando pudesse de novo visitar os lugares que me encantaram quando, como crianca e mais tarde adolescente, visitei com os meus pais. Estava consciente que iria encontrar um pais muito diferente daquele que deixei em 84, pois felizmente Angola nao estagnou nos ultimos 30 anos! Ha muitas mudancas, de algumas gosto, doutras nem tanto, mas como nao estou pronta para ficar e dar o meu contributo para que as mudancas sejam ao meu gosto, aceito-as em vez de criticar e apontar o dedo.
As recordacoes vieram como ondas, umas doces, preguicosas e meigas, outras bravas como calemas. Umas felizes que me aqueceram, outras tristes como amanheceres no cacimbo. A todas recebi de coracao aberto - fazem parte da minha vida e tiveram um papel preponderante em tornar-me na mulher que hoje sou.
Vou tentar transcrever aqui, o melhor que puder, a minha viagem por terras Angolanas.
Deixei, ha 30 anos, um pais em guerra. Encontrei agora um pais com cicatrizes profundas e muito visiveis que vao custar a curar, mas deparei tambem com um povo decidido a fazer o seu pais renascer das cinzas, um povo com uma vontade de reconstruir e renovar inegualaveis. E penso/espero que este pais tenha um futuro brilhante, digno do seu povo.

My new "baby"

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